O presidente do Sindipetro Ce/PI, Orismar Holanda, responde algumas questões referentes a exploração de petróleo no Ceará e das novas perspectivas para o Estado com o leilão da ANP e com as novas descobertas da Petrobras em águas profundas. Confira:
O Ceará, no ano passado, teve sua menor produção de petróleo desde o ano 2000, segundo dados da ANP. Em relação a 2003, que foi o melhor ano de produção no período, 2012 alcançou menos da metade daquela produção. Como o senhor avalia isso?
Orismar – A redução de investimentos em manutenção de todo sistema produtivo( poços, oleodutos, equipamentos, sistema e malhas de controle) em áreas maduras como os campos marítimos e terrestre de produção de óleo e gás no nosso litoral, que já alcançam trinta anos em produção, resulta na diminuição da produção. Outro fator importante a ser considerado é a redução da mão de obra própria e qualificada quem vem ocorrendo ao longo desse período.
– O senhor acredita que a perfuração de poços em águas profundas pode gerar uma nova era de petróleo no Ceará? Como o senhor vê as novas descobertas da Petrobras no Ceará, em especial a do poço Pecém?
Orismar – O bom resultado obtido com o poço Pecem já responde essa questão. O que precisamos é de mais investimentos nessa área, entretanto a direção da Petrobras vem priorizando os investimentos na área do pré-sal, o que faz-se necessária uma boa pressão política da nossa bancada parlamentar e do governador.
– Quais as expectativas com o leilão da ANP, que tem 11 blocos em oferta na Bacia do Ceará e um na Bacia Potiguar em confronto com o território cearense?
Orismar – Há uma expectativa gerada em torno disso, mas não deixa de ser um grande engano. Leilão de petróleo é a forma mais dissimulada de entregar uma de nossas maiores riquezas e não aceitamos isso.
A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, em visita ao Ceará no mês passado, disse que o Estado é um ponto estratégico para ancorar toda a atividade exploratória a ser iniciada com a 11ª Rodada. É possível que esse leilão possa consolidar uma indústria de petróleo no Ceará, como aconteceu anteriormente no Rio Grande do Norte, com a descoberta de petróleo em Mossoró?
Há uma grande diferença entre a ação da Petrobras e a da indústria privada do petróleo. A Petrobras cria empregos diretos através de concurso público, agrega em torno de suas atividades uma série de serviços com transferência de conhecimento, de tecnologia, desenvolve ações sociais junto à comunidade(cito como exemplo o projeto Mova Brasil – alfabetização de jovens e adultos – há mais de cinco anos em vários municípios brasileiros, hoje com mais de 3 mil alunos no Ceará). Por outro lado a indústria privada no setor petróleo tem demonstrado ao longo de sua história uma ação predatória que carece de uma legislação específica, rígida e, uma atuação governamental forte; o que não temos. Haja vista o caso do vazamento provocado pela Chevron na área do pré-sal, há bem pouco tempo, e ela já está liberada pela ANP para voltar a operar. Se pensarmos em geração de bem estar, melhoria de vida para a população local; também é puro engano, basta observar o que ocorreu na Bolívia (guerra do chaco), o que vem ocorrendo na África com exploração de petróleo e gás feita por companhias internacionais e, o que existe é degradação ambiental, patrocínio a grupos armados, estímulo a conflitos de etnias para desestabilizar os sistemas de governo e se manter na influência política, e a população na miséria.
Quantas indústrias temos hoje no setor petrolífero no Ceará e quantas pessoas o setor emprega hoje? E onde o senhor acredita que podemos avançar? Que novas indústrias e serviços podemos agregar?
Orismar – Aqui no Ceará a atividade no setor petrolífero, exploração, refino, transferência e distribuição de gás canalizado, distribuição de derivados, biodiesel e termoelétrica emprega hoje aproximadamente 2.500 trabalhadores (as) entre próprios e terceirizados; algumas empresas de transporte, alimentação, apoio marítimo e de serviços em geral dão apoio a essas atividades. Entretanto algumas dessas empresas veem de outros estados, o que também se verifica com mão de obra qualificada. O grande avanço será com a presença da Petrobras de modo fortalecida como empresa 100% nacional, utilizando e desenvolvendo a indústria de bens e de serviços nacionais e regionais, com programas de pesquisa de aprimoramento e de novas tecnologias, formação e capacitação de mão de obra nas escolas e universidades. Asim, poderemos ter uma nova era com benefícios para toda sociedade.