Em menos de dois anos de gestão Castello Branco, os quadros de trabalhadores da Petrobrás já retrocederam aos anos 90. A meta dele, no entanto, é reduzir os efetivos da empresa aos níveis anteriores à descoberta da Bacia de Campos e à expansão do parque de refino. Em 1973, a Petrobrás empregava 32 mil trabalhadores. Castello Branco quer chegar a, no máximo, 30 mil.

Só no primeiro semestre deste ano, as demissões em massa, via planos de desligamentos, cortaram 22% do atual efetivo da empresa, que gira em torno de 45,5 mil trabalhadores próprios. Segundo comunicado da estatal à imprensa, 10.082 petroleiros aderiram ao Programa de Aposentadoria Incentivada (PAI), lançado em abril, e aos PDVs direcionados aos trabalhadores de unidades que estão sendo vendidas ou desativadas. 

É a maior saída em massa de trabalhadores da Petrobrás em um espaço tão curto de tempo. As adesões que os planos de desligamentos tiveram nos últimos meses equivalem a cerca de 60% de todos os 17.590 petroleiros que deixaram a empresa nos PDVs dos últimos cinco anos. Os gestores, no entanto, querem dispensar mais 15 mil trabalhadores. Na Transpetro, também está em curso um PDV, com o objetivo de atrair 557 petroleiros, cerca de 10% do efetivo da subsidiária.

Castello Branco reproduz na Petrobrás a mesma tática do governo Bolsonaro: aproveita-se da pandemia da covid-19 para passar a boiada, acelerando as privatizações e o encolhimento da empresa. Hoje, 49 ativos estão à venda, 17 deles anunciados no primeiro semestre de 2020, em meio ao avanço do coronavírus. A atual gestão é responsável por 88% de todas as ofertas em curso neste feirão, incluindo refinarias, dutos, terminais, campos de petróleo, termoelétricas, usinas de biodiesel, plataformas e muito mais.

O desmonte passa diretamente por demissões em massa, não só de trabalhadores próprios, como também dos contratados. Levantamento da subseção Dieese da FUP aponta que pelo menos 9.200 trabalhadores terceirizados que atuavam em áreas de apoio à operação e manutenção das unidades foram demitidos entre abril e junho deste ano.

O coordenador da FUP, Deyvid Bacelar, chama a atenção para o aspecto coercitivo dos PDVs que estão sendo oferecidos aos empregados das áreas hibernadas, vendidas e em processo de privatização. “Os trabalhadores estão sendo compulsoriamente transferidos, num processo cruel de desestruturação das famílias, o que faz com que muitos optem pelos PDVs”, afirma.

“Está havendo uma ruptura na cultura de gestão da Petrobrás que terá graves consequências para a empresa. Nós tínhamos uma política de retenção de talentos e agora nós temos um processo de perda desse capital intelectual e da memória técnica da Petrobrás, o que comprometerá o desenvolvimento de novas tecnologias e o conhecimento técnico da própria empresa”, explica o coordenador da FUP.

Outra consequência desse desmonte é o aumento dos acidentes, devido à insegurança que compromete as unidades operacionais operadas por efetivos cada vez mais reduzidos. “Esses petroleiros, que já estão trabalhando em condições extremamente inseguras, com regimes e jornadas desrespeitados, serão ainda mais penalizados. A FUP e seus sindicatos têm alertado para a iminência de um grande acidente ampliado no Sistema Petrobrás. Mas, em vez de repor efetivos, a empresa reduz ainda mais os quadros, transformando as unidades em bombas relógio”, alerta Deyvid.

[FUP]

 
Última modificação em Terça, 14 Julho 2020 17:31