Este ano o nosso Sindipetro fez 47 anos. É um dos sindicatos de petroleiros mais antigos do país. São mais de 4 décadas de lutas e protagonismo na cena nacional da categoria. História marcada sempre com muita coragem e ousadia na defesa dos trabalhadores e da importância da Petrobrás para a soberania nacional. Neste mês de maio também completamos 25 anos da greve histórica de 1995.
Foram 32 dias com mais de 90% dos trabalhadores parados pelo não cumprimento do protocolo assinado pelo governo no ano anterior e contra o carro chefe do 1º governo de FHC: quebra do monopólio do petróleo e a privatização das estatais. Fruto do projeto neoliberal inaugurado com Collor, os petroleiros já vinham sofrendo os arrochos das políticas econômicas e acumulando perdas sucessivas com planos governamentais.
Antes do início da greve de 91 a categoria já acumulava mais de 800 demissões provenientes dos movimentos anteriores e que durante aquele chegaram a quase mil. Apesar de não terem a reposição das perdas salariais e criação de comissões de saúde e Plano de Cargos e Salários que reivindicavam, a greve só terminou ao final de 24 dias, com todas as refinarias e 75% da produção paradas e a revogação das demissões e alguns adiantamentos salariais.
A resistência ao neoliberalismo continuou, o Collor caiu, mas o projeto político de desmonte do estado permanecia no governo Itamar sob o comando de FHC na economia. É então em 95, já como presidente e a quebra do acordo firmado após as greves de setembro e novembro de 94 que ocorre a greve histórica a partir do dia 03 de maio.
Os petroleiros se somam a greve unificada dos trabalhadores das estatais (eletricitários, telefônicos, ferroviários, trabalhadores dos Correios, metroviários) e do setor público contra as privatizações e o arrocho salarial. O quarto poder – a mídia hegemônica, fazia terrorismo tentando responsabilizar a categoria pela falta de combustível e do gás de cozinha, mas ainda em novembro daquele ano o TCU viria a concluir que as próprias distribuidoras é que tinham boicotado o abastecimento do gás de cozinha.
“MEXEU COM MEU COMPANHEIRO, MEXEU COMIGO”
Como de costume, já no 7º dia do movimento paredista, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) julgou a greve abusiva e imediatamente no dia 11 de maio a empresa divulga a primeira lista de demitidos com 25 nomes. A categoria numa demonstração de unidade responde assinando em massa uma lista de mais de 17mil cartas de demissão coletiva.
Não demora muito para os petroleiros em greve provocar a queda da máscara social democrata do recém eleito governo FHC do PSDB: em 24 de maio as refinarias REPAR (Presidente Getúlio Vargas, Paraná), REPLAN (Paulínia, São Paulo), RECAP (Capuava) e a REVAP (Henrique Lages, São José dos Campos) amanhecerem ocupadas com os tanques do Exército.
Atendendo aos interesses das elites entreguistas, em 26 de maio o TST julga abusivo o movimento, e já aquela época, se utiliza da institucionalidade de um poder do estado para massacrar e atacar a liberdade de organização sindical do legítimo instrumento de organização e defesa da categoria, ao impor multas astronômicas de R$100mil por dia parado a cada entidade e federação.
Diante da intransigência e truculência do governo frente a crise, a classe trabalhadora dá mais uma demonstração de identidade no 31 de maio com o Dia Nacional de Solidariedade à Greve dos Trabalhadores da Petrobrás: SOMOS TODOS PETROLEIROS. No dia seguinte lideranças parlamentares de diversos partidos, em nome do congresso nacional, formam uma frente que intermedia as negociações com a direção da empresa na qual se comprometia a cancelar as punições e parcelar os dias parados.
Em 2 de junho, as bases de todo país aprovam o indicativo da FUP de suspensão da greve, a exceção da Refinaria Presidente Bernardes – Cubatão (RPBC) que tinha mais de 300 grevistas ocupando a unidade desde 5 de maio. Esses, só saíram em 3 de junho cobertos por uma imensa bandeira do Brasil, entoando o hino nacional e reverenciados pela categoria país a fora como símbolo da fibra e resistência petroleira.
Os 20 sindicatos e a FUP acumularam multas de R$2,1milhões cada, tiveram ainda contas bloqueadas, repasse de mensalidades retidos e bens penhorados; 73 trabalhadores e dirigentes sindicais demitidos, mais de mil punidos, sendo boa parte com suspensões de até 29 dias.
A LUTA CONTINUOU PELA ANISTIA!
Somente com a mudança do projeto político para o país 8 anos depois, é que a reparação se inicia: reversão de 88 demissões, 443 advertências, 269 suspensões e 750 punições aos trabalhadores que lutaram entre 94 e 95 por seus direitos e ideais originários da criação da Petrobrás: O PETRÓLEO É NOSSO!
O LEGADO DESSA GRANDE HISTÓRIA…
Os frutos do que aqueles combativos homens e mulheres petroleiras plantaram naqueles 32 dias à 25 anos atrás ainda vai servir por muitos tempo de referência e inspiração para toda a classe trabalhadora brasileira. Ali se exercitou o companheirismo da categoria, a solidariedade, unidade e identidade classista, cunhando mais uma vez na história da nação um novo marco da resistência popular.
Aquela foi a oportunidade para se denunciar o projeto privatista em curso das elites entreguistas e escravocratas históricas que atacavam frontalmente os direitos e garantias do Estado do Bem Estar Social pactuado pela Constituição Cidadã de 1988 após 21 longos anos de ditadura militar.
A luta foi importante para que a Petrobrás, mesmo com a quebra do monopólio que detinha, conseguisse resistir durante os 8 anos de governo FHC e em 2005, já num outro alinhamento como indutora do desenvolvimento nacional e ciclo de investimento, descobrisse o pré-sal, oportunizando soberania energética e retorno social ao povo brasileiro.