A disputa aberta entre Rússia e Arábia Saudita fez os preços do petróleo despencarem ontem (09). Os barris do óleo tipo Brent e WTI tiveram uma queda de pouco mais de 24%, provocando um caos no mercado financeiro internacional, com reflexos nas bolsas de valores e no preço do dólar no Brasil, que fechou a R$ 4,72.
Ouça a entrevista de Fernando Siqueira:
O motivo para a concorrência entre os dois países é a dificuldade no acordo entre os russos e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderada pelos árabes, para a redução da produção e a consequente manutenção dos valores da commodity em níveis mais altos. Como a Arábia é capaz de produzir o óleo com custo baixo, aumentou a oferta no mercado, movimento seguido pelo país liderado por Vladmir Putin.
Contudo, há um terceiro e importante ator envolvido nesta competição geopolítica: os Estados Unidos, conforme destacou o diretor de comunicação da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet) Fernando Siqueira.
“O que está por trás disso são os Estados Unidos porque essa é a terceira vez que Arábia Saudita derruba o preço do petróleo. Em 2010, ela fez a mesma coisa, inundou o mercado, o petróleo caiu para US$ 13 dólares e a Rússia se desmantelou porque ela tem como principal fonte de renda o petróleo”, lembrou.
“Há a divergência da Rússia na Síria com os Estados Unidos. A Rússia tem dificultado as manobras dos Estados Unidos inclusive aqui na Venezuela, o Maduro está sendo sustentado pela Rússia. É uma briga geopolítica para cachorro grande. O preço do petróleo nesse nível inviabiliza a produção dos Estados Unidos. Para a Arábia Saudita também é um grande negócio”, continuou o dirigente.
Os estadunidenses extraem, em maior volume, o chamado petróleo de xisto, retirado de fragmentos de xisto betuminoso em um processo que converte a matéria orgânica no interior da rocha em óleo e gás sintéticos. A desvantagem é o custo elevado de produção, o que obriga a comercialização em valores elevados.
A queda no preço da commodity provocou uma desvalorização acentuada das ações da Petrobras na bolsa de valores. A empresa perdeu aproximadamente R$ 81 bilhões em valor de mercado. Siqueira citou uma falha na política da estatal para justificar o debacle.
“O fato é que é essa terceira queda brusca do petróleo explicitou o erro estratégico clamoroso que vem sendo cometido pelos presidentes da Petrobras Pedro Parente e agora o Castello Branco. Ele está, como dizem os economistas, colocando os ovos todos em uma única cesta porque no setor de petróleo você precisa ter os três segmentos: produção, comercialização e petroquímica. O Castello Branco está querendo vender tudo e só ficar com o pré-sal”, concluiu.