Venda da Lubnor pode acarretar desabastecimento de navios no Porto do Mucuripe e impactar exportações, importações e cruzeiros em Fortaleza

A venda da Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), que está em processo de venda para Grepar Participações Ltda pode causar danos econômicos e políticos para Fortaleza e para o Ceará, caso a nova empresa não consiga escoar a produção de combustível para navios, genericamente chamado de bunker.

Entre os produtos fabricados na refinaria estão os óleos combustíveis marítimos, conhecidos internacionalmente pelo nome MFs (marine fuels) ou IFOs (intermediate fuel oils), utilizados nas operações de abastecimento a navios (bunkering) de armadores nacionais ou estrangeiros, no Porto do Mucuripe. Além desse, a Lubnor fornece um segundo combustível marítimo: o óleo diesel marítimo (marine gasoil – MGO). Esses óleos são utilizados pelos navios como combustível em seus motores propulsores e auxiliares e em suas caldeiras.

Os maiores clientes de bunker da Lubnor são negociados por escritórios internacionais. Este mercado é muito sensível à confiabilidade no fornecimento. Para garantir que o cliente manterá o Porto do Mucuripe como um possível local de abastecimento, é necessário que haja produto continuamente disponível. Um porto que apresenta falta dele afasta os armadores, que procuram fontes mais confiáveis de suprimento. Portanto, a Lubnor precisa garantir o fornecimento do produto para evitar a perda de clientes estratégicos, que garantam o mercado do produto que ela mesma precisa escoar. Os clientes atendidos no porto são os navios graneileiros, navios que transportam combustíveis e até cruzeiros.

“É uma mão de via dupla, a refinaria precisa de insumos tragos por navios pelo porto, ao mesmo tempo que usa esses insumos para abastecer esses próprios navios. Caso a Petrobrás não queira mais comprar esse bunker da Grepar, ou se recuse a pagar pelo escoamento desse bunker, a Grepar não teria como assumir os custos da venda e portanto pararia sua produção, desabastecendo os navios do porto“, avalia o presidente do Sindipetro CE/PI, Fernandes Neto.

A Lubnor não é apenas uma fábrica de asfalto e lubrificantes, mas o braço logístico da Petrobras no Ceará, responsável por entregar às distribuidoras locais óleo diesel, gasolina, querosene de aviação e GLP provenientes de outras refinarias, terminais, transportados até Fortaleza por navios, em operações de cabotagem ou, eventualmente, importação.

Atualmente a refinaria produz mensalmente cerca de 6 mil m3 de óleo combustível e de 3 a 4 mil m3 de VLSFO/MF-380, que tem baixo teor de enxofre. Não se sabe se a empresa que quer comprar a Lubnor possui essa estrutura. Após abastecer navios no porto do Mucuripe, um excedente de 6 mil toneladas de óleo combustível, que são transportados mensalmente da Lubnor para outros terminais da Petrobras, por meio de navios da própria Petrobras ou por ela afretados.