Dados do IBGE mostram que estados dessas regiões sofrem mais com falta de médicos, UTIs e respiradores

Nara Lacerda

 

Pacientes buscam atendimento em Belém (PA) – Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real/ Fotos Públicas

Estados do Norte e do Nordeste, que já enfrentam esgotamento do sistema de saúde frente à pandemia do coronavírus, são os que menos têm leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), respiradores e médicos a cada 100 mil habitantes. A realidade, exposta em dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirma aspectos históricos da desigualdade social no Brasil. Os números indicam também que mais da metade das UTIs estão na rede privada. O Sistema Único de Saúde responde por pouco mais de 15 mil vagas, entre as quase 32 mil que existem no país. 

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O levantamento aponta situação crítica em número de profissionais no Amazonas, Acre, Amapá, Maranhão e Pará. Nesses três últimos, o cenário está distante do que preconiza a Organização Mundial da Saúde (100 médicos a cada 100 mil habitantes). No Amapá, a proporção é de 95, no Pará está em 85 e no Maranhão em 80.

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Os únicos estados das regiões Norte e Nordeste que contam com mais de 150 profissionais a cada 100 mil habitantes são Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Em todo o Brasil, a unidade da federação que apresenta melhor proporção é o Distrito Federal, que tem mais de 338 médicos a cada 100 mil habitantes.

Faltam leitos

Entre os que menos oferecem leitos de UTI estão Roraima, Amapá, Acre, Amazonas e Piauí – todos com menos de 7 leitos a cada 100 mil habitantes. Todas as oitos regiões que não apresentaram nenhum registro Unidades de Terapia Intensiva e que têm população maior que 200 mil habitantes estão Nordeste, quatro delas no Ceará.

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A melhor taxa foi encontrada novamente no Distrito Federal, em que há trinta vagas disponíveis a cada grupo de 100 mil pessoas. Os dados divulgados pelo IBGE chamam a atenção também para a situação específica de alguns municípios com população superior a 500 mil habitantes e baixos índices de Unidades de Terapia Intensiva. Vitória da Conquista, na Bahia tem 11 leitos a cada 100 mil pessoas. Em Marabá, no Pará, a proporção é de 3,4.

Menos da metade dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva são do Sistema Único de Saúde.

Oferta de respiradores

Os números apresentados pelo IBGE também confirmam que estão no Norte e no Nordeste os estados com menos acesso a respiradores a cada 100 mil habitantes. As menores proporções de distribuição de aparelhos foram registradas no Acre (16,3), Alagoas (15,2), Maranhão (13,9), Piauí (13,7) e Amapá (10,4).

Em algumas cidades o cenário é ainda mais preocupante. O município de Arapiraca (AL), por exemplo, conta com menos de sete respiradores a cada 100 mil. Já Governador Nunes (MA), cidade com mais de 140 mil habitantes, não há nenhum aparelho disponível. 

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Cayo de Oliveira Franco, gerente de Geografia do IBGE, afirma que os dados confirmam a menor disponibilidade de recursos para as regiões Norte e Nordeste. Ele ressalta que é importante lembrar do cenário de interiorizações da pandemia e de deslocamento para busca de atendimento. 

“O objetivo desse estudo é exatamente subsidiar os municípios, os estados e o governo federal numa governança da pandemia. Essa análise mostra, por exemplo, que populações de alguns estados vão para outros estados em busca de saúde. É um desafio de gestão. Você vê, por exemplo, Manaus polarizando uma grande quantidade de municípios buscando atendimento, o que tende a se acirrar em um cenário de pandemia. Esses gargalos de infraestrutura estão mapeados. É muito importante que a gente dê luz aos lugares que não têm infraestrutura para mostrar as regiões que precisam ser priorizadas. Obviamente, é preciso observar a tendência da covid-19 pelo território. É necessário observar também questões que ultrapassem os limites dos estados, que talvez precisem de uma atuação  do governo federal mais especificamente ou de um consórcio ou parceria como os estados do Nordeste têm feito”, afirma. 

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Preocupação também em outras regiões

Embora os cenários mais críticos tenham sido registrados em estados do Norte e do Nordeste, há realidades que preocupam também em outras regiões. A capital gaúcha, Porto Alegre, por exemplo, está entre as cidades mais populosas do país com os menores índices de leitos de UTI. Na lista estão também Fortaleza (CE), Belém (PA) e São Luís (MA). 

Goiás está entre os estados que menos contam com profissionais de enfermagem a cada 100 mil habitantes, junto com Amazonas, Sergipe, Alagoas e Pará. 

Além disso, os estados que mais concentram idosos estão nas regiões Sul e Sudeste. No Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, eles representam mais de 13% da população. Em Minas Gerais, São Paulo e Paraná têm são mais de 11%. 

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IBGE busca novos dados sobre a pandemia

Desde o início desta semana, o IBGE trabalha em uma versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) para quantificar pessoas com sintomas de covid-19 e os impactos da pandemia no mercado de trabalho. Diferentemente das outras edições da PNAD, desta vez a pesquisa será feita por telefone. As ligações serão feitas para mais de 190 mil domicílios em 3.364 municípios de todos os estados do país.

A pesquisa vai estimar a quantidade de pessoas que tiveram algum dos sintomas de covid-19, quem procurou atendimento, quais foram as medidas adotadas, se houve internação e a que tipo de procedimento o paciente foi submetido. Os agentes também vão fazer perguntas relativas à prática do trabalho em casa, rendimentos e situação empregatícia das famílias.  

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Todas as informações têm o sigilo garantido por lei. O instituto ressalta a importância de que os brasileiros respondam à pesquisa, como forma de contribuir para a construção de dados e informações a respeito da pandemia no Brasil. Quem receber os telefones pode confirmar a identidade dos agentes de coleta por meio do site Respondendo ao IBGE ou do telefone 0800 721 8181, e informar matrícula, RG ou CPF do entrevistador.

Edição: Vivian Fernandes