POR Ineep – sexta-feira, 24 de abril de 2020
Em abril, os principais produtores de petróleo se organizaram a fim de reduzir os impactos negativos da pandemia da Covid-19 no setor energético. O primeiro passo foi tomado pelo grupo de países conhecido como OPEP+, liderado pela Arábia Saudita e pela Rússia, quando fecharam um acordo de contenção de 9,7 milhões de bdp/dia. Outras nações produtoras anunciaram restrições adicionais em seus níveis de produção de petróleo. No Brasil, a Petrobras já havia se comprometido com uma redução de 200 mil bdp/dia.
Para realizar tal corte, a estatal anunciou, na quarta (16/04), a hibernação de 62 plataformas em campos de águas rasas das bacias de Campos, Sergipe, Potiguar e Ceará. De acordo com os dados da ANP, em fevereiro, essas instalações produziram 63 mil bdp/dia. A maior parte desse corte na produção foi resultado da paralisação da P-43, instalação do tipo Floating Production Storage and Offloading (FPSO), situado na Bacia de Campos, que produziu, em fevereiro, 39 mil bdp/dia, em águas profundas. Desse modo, se a estatal pretende alcançar a sua meta de restrição na produção, ainda precisa cortar outros 137 mil bdp/dia.
A Petrobras informou que as instalações paralisadas foram selecionadas por suas condições em operar com os preços baixos de petróleo, escolhidas, dessa forma, a partir dos seus custos de exploração. Nesse ponto, os campos selecionados foram os de águas rasas, com custo de extração de US$ 30,3 por barril. Tal valor é muito maior que os do pré-sal, região em que a extração fica no patamar de US$ 5,6 por barril.
Com a paralisação, o futuro dos campos de águas rasas é incerto. A petroleira já informou que cogita deixar os ativos parados até que um novo operador assuma os campos. Esses campos já faziam parte da estratégia de desinvestimentos da Petrobras dos últimos anos. Em 2019, na bacia de Campos, a Petrobras já havia vendido os campos de Pargo, Carapeba, Vermelho, Maromba e metade da sua participação nos campos de Tartaruga Verde e Espadarte. Nesse cenário, a estatal mantém o foco da produção na área nobre do pré-sal.
Cabe assinalar ainda que o atual cenário é complexo para a Petrobras e para seus trabalhadores. Sobre o assunto, o diretor da FUP, Deyvid Bacelar, afirmou que “Se o motivo da hibernação fosse a crise, a gestão da empresa optaria por paralisar grandes plataformas. O que está acontecendo, de fato, é que está sendo promovida a redução do efetivo de trabalhadores com o pretexto da crise”. Para calcular um possível número de funcionários realocados, o Ineep solicitou à Petrobras, por meio do sistema eletrônico do serviço de informação ao cidadão (e-SIC), que informasse o número total de funcionários designados a cada uma de suas plataformas, mas não obteve, até o momento, uma reposta.
Uma ideia preliminar pode ser obtida a partir de dados de anos anteriores. Em 2018, a Petrobras empregava 7 mil funcionários próprios e 34 mil funcionários terceirizados em suas 108 plataformas de petróleo. Se os dados se mantiveram no mesmo patamar, as plataformas empregaram mais de 40 mil funcionários, sendo a maior parte contratados.
Enquanto isso, a Petrobras informou, em nota, que 80% das 62 plataformas paralisadas não eram habitadas e que não demitiria os empregados das demais unidades habitadas. Estes seriam realocados para outras unidades ou poderiam aderir ao Plano de Desligamento Voluntário (PDV), conforme prevê o plano de pessoal para gestão do portfólio da empresa.
Contudo, já se pode ver situações como a seguinte: nesta quinta-feira (23/04), a Petrobras anunciou a paralisação de cinco sondas de petróleo da sua unidade operacional da Bahia (quatro sondas da empresa Braserv e uma da Perbras), sem comunicar com 30 dias de antecedência como previsto no contrato elaborado pela própria estatal. Tal medida provocou, inicialmente, a demissão de cerca de 350 trabalhadores diretos e indiretos.
Em síntese, a atual crise do petróleo forçou a ação conjunta de diversas nações na contenção da produção mundial de petróleo. No Brasil, a Petrobras se comprometeu com uma redução de 200 mil bdp/dia. Em um primeiro momento, as paralisações se referem às instalações de águas rasas, correspondendo, contudo, a apenas 31,5% da meta prevista. O próximo passo ainda não foi divulgado, mas se espera que a petroleira não ignore a responsabilidade com seus funcionários e não utilize a crise do petróleo como pretexto para dispensar os seus trabalhadores.