Ao contrário de outras petrolíferas mundiais e; imitando a Shell; Petrobrás usa momento de calamidade para implementar mudanças nas jornadas e turnos

Em nota preliminar sobre os impactos da covid-19 nas políticas de trabalho na produção de óleo e gás, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirmou que o caso brasileiro é singular dentro desse cenário de pandemia, devido a existência de uma empresa estatal que pode articular exploração e refino no limite necessário para a demanda interna, sem precisar aumentar a jornada e expor o trabalhador.

“Não tem porque o Brasil não centrar sua produção para o mercado interno e a segurança de seus trabalhadores. Obviamente, é preciso garantir o abastecimento, dada a essencialidade do petróleo e gás para a vida das pessoas. Contudo, num quadro de menor demanda e cotações mais baixas e de alto risco de contágio por parte dos trabalhadores petroleiros, é possível e necessário adequar o nível de produção a um menor patamar”, esclarece o documento.

As medidas de mudança de regime foram tomadas unilateralmente, sem conversa com sindicatos, trocando regimes de trabalho offshore vigentes até então, de 14 dias embarcado em alto mar isolado em plataformas seguidos por 21 dias de descanso (14×21), por um novo regime de 28×14, sendo 7 dias de quarentena sob análise médica e outros 21 dias embarcado em alto mar, seguidos por 14 dias de descanso.

Algumas empresas, como o caso da Petrobrás e da Shell, não decidiram por redução do efetivo e da produção. Ao contrário, seus posicionamentos que têm se tornado públicos têm focado nos investidores e na garantia da produção.

A possibilidade da redução da exploração se explica além da pandemia da covid-19. O mercado mundial de petróleo foi um dos casos mais emblemáticos de queda dos preços, agravado pelas disputas geopolíticas entre os grandes produtores, em fevereiro, por Rússia e Arábia Saudita, que derrubaram a cotação do barril de petróleo tipo brent de US$ 60, em janeiro de 2020, para US$ 25 dólares, em março, apresentando uma redução de 58%, e a tendência será reduzir ainda mais.

O documento conclui ser possível manter a produção necessária para o consumo interno com um efetivo reduzido, protegendo os trabalhadores deste setor essencial. Infelizmente, a Petrobrás age em direção oposta aos interesses públicos e nacionais. Realiza políticas de privatização dos campos maduros e das refinarias destruindo a possibilidade de uma produção estratégica para o mercado interno, para atender apenas os interesses financeiros internacionais dos seus acionistas privados.