Mesa na manhã de hoje na VII Plenária Nacional da FUP debateu a “Geopolítica do petróleo e erros de estratégias da Petrobrás”. Os expositores mostraram como o Golpe de 2016 tem relação com os interesses internacionais no pré-sal brasileiro. A Petrobrás, afirmam, ao desmontar a sua atuação em toda a cadeia produtiva, está na contra-mão do que estão fazendo as empresas do setor, que buscam ter as suas atividades integradas.

Fizeram exposições na mesa de debates o economista Rodrigo Leão, coordenador do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra), o professor e pesquisador Igor Fuser, da Universidade Federal do ABC, e o coordenador licenciado da FUP, José Maria Rangel. Além dos delegados e delegadas da plenária, puderam fazer perguntas os internautas que interagiram com a transmissão em redes sociais (aqui)

Pré-sal estratégico para o mundo

Para Leão,”muitas vezes a sociedade não tem clareza do que está se falando quando tratamos do pré-sal”. Ele explica que esta camada possui reservas comprovadas de cerca de 100 milhões de barris e, hoje, o Brasil já é o quarto maior produtor do mundo, atrás apenas da Venezuela, da Arábia Saudita e do Irã.

“E uma diferença é que a Petrobrás já explora o pré-sal, diferente por exemplo da Venezuela, que ainda não tem condições de explorar ainda”, explica o economista. Atualmente, mais da metade do petróleo produzido no Brasil vem do pré-sal.

O coordenador do Ineep também situou o interesse estratégico dos Estados Unidos no pré-sal brasileiro. “Eles produzem o gás de xisto, que está crescendo muito, mas tem vai acabar muito rápido”, afirma, mostrando que os EUA, mesmo tendo algumas das maiores empresas privadas do setor petróleo, ainda dependem da exploração feita em outros países.

Ele também destacou que há muita incerteza entre as multinacionais sobre o cenário do petróleo para os próximos anos, por isso elas estão procurando explorar ao máximo o petróleo agora e com baixo custo, como é o caso do pré-sal brasileiro. “As empresas querem ter o petróleo e querem ter o petróleo rápido”, disse.

Esses interesses estão na base do Golpe de 2016, entende Leão. Ele lista os passos que a Petrobrás passou a dar depois do impeachment da presidenta Dilma, justamente para atender aos interesses das empresas internacionais que estiveram por trás do Golpe: a companhia está sendo fatiada, está reduzindo investimentos e abrindo mão do uso flexível do petróleo (como na área de fertilizantes).

Por um mundo multipolar

O professor Igor Fuser concorda que os interesses internacionais no petróleo brasileiro estão entre os principais motivos do Golpe de 2016. “O que estão fazendo com a Petrobrás tem relação direta com o Golpe”, disse, lembrando o abandono da política de conteúdo local, a entrega das reservas e o desmonte da própria companhia.

“O Golpe foi da burguesia, do grande capital nacional, que não estava mais disposto a tolerar governos populares, mas não apenas. Houve uma mão externa, a mesma do Golpe de 1964. Ainda não está muito claro o papel dos Estados Unidos, o papel do [juiz Sérgio] Moro, mas a história vai mostrar, muitos canais ligam o Golpe de 2016 aos EUA”, afirma Fuser.

Segundo ele, o Golpe retirou o Brasil de uma política internacional altiva, quando “havia deixado de ser capacho dos Estados Unidos sem ser inimigo”, e “passou a se articular com outros países, de forma multipolar”.

“Um mundo dominado pelos Estados Unidos não nos interessa, nos coloca à mercê de uma potência externa. Nos interessa um mundo onde haja vários países com força, entre eles o Brasil”, disse o pesquisador.

Resistência petroleira

O coordenador licenciado da FUP, José Maria Rangel, disse que concorda com as análises de Leão e de Fuser, mas acrescenta que tem havido resistência petroleira há muitos anos em relação a este cenário. “Nós da FUP não ficamos de braços cruzados esperando a morte chegar”, afirma.

Ele lembrou a luta contra o Projeto de Lei 131, do senador José Serra, que originalmente previa a retirada total da Petrobrás da condição de operadora única do pré-sal. “Foi a nossa atuação que conseguiu que a Petrobrás tenha pelo menos a preferência na operação”, citou.

Rangel destacou ainda o simbolismo do jaleco laranja, que passou a ser utilizado não apenas por petroleiros e petroleiras, mas por todos que defendem a Petrobrás e a soberania nacional, além da criação do Ineep, para subsidiar a ação política da categoria no debate do setor petróleo.

“Hoje nós podemos argumentar com qualquer entreguista. O Ineep possibilitou isso. Quando a Petrobrás divulga o balanço, praticamente em tempo real a gente discute e responde”, disse José Maria.

[Via Sindipetro-NF]