Para liderança do MST, o país está sendo controlado pelo capital estrangeiro desde o golpe de estado contra Dilma
Mariana Pitasse | Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | 21 de Setembro de 2017 às 12:58
A entrega dos recursos naturais brasileiros a grupos econômicos nacionais e estrangeiros tem sido uma das principais pautas do governo Michel Temer. Recentemente, o anúncio de extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (RENCA), na Amazônia, gerou revolta e foi considerada por muitos como o maior ataque à região em 50 anos. Para João Pedro Stédile, a tentativa de privatização das riquezas naturais do país, como a água, petróleo e minérios, “é um crime contra a pátria e contra o povo brasileiro”. Em entrevista ao Brasil de Fato, a liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), falou sobre os impactos dessas medidas para o população brasileira.
Brasil de Fato: Por que o governo Temer em está tentando privatizar alguns dos principais bens da natureza brasileira?
João Pedro Stédile: O Brasil vive uma grave crise econômica e social, que tem como causa a forma do capitalismo funcionar. Para escapar dela, os capitalistas, os empresários, os ricos procuram jogar todo peso da crise sobre a classe trabalhadora, aumentando a exploração do trabalho e o desemprego, que é uma forma deles se livrarem da folha de pagamento. Por outro lado, o Brasil deve ser um dos países que tem mais riquezas da natureza, como o pré-sal, as águas, as terras e os minérios. Esses bens deveriam ser explorados em proveito de todo povo. É isso que está na Constituição. Porém os capitalistas sabem que os bens da natureza não são fruto do trabalho e, portanto, quando são colocados no mercado, eles se transformam em mercadorias que dão um lucro maior do que qualquer fábrica ou comércio. Então, as grandes empresas pressionam para que o governo não explore os bens por meio de estatais e, sim, pelo capital privado. Eles querem ficar com todo o lucro.
Qual o papel do capital estrangeiro nesse processo?
Todas as grandes empresas e capitalistas sonham em se apoderar das riquezas naturais, mas quem tem mais força são as de capital estrangeiro. No caso pré-sal, por exemplo, a Petrobras saiu e entraram seis empresas estrangeiras, desde norte americanas até as chinesas. Quando o assunto é água potável quem controla agora o mercado é a Nestlé e a Coca-Cola. Na mineração todas são empresas estrangeiras. O governo golpista está querendo entregar a maior reserva de cobre, que temos na Amazônia, para uma empresa canadense. Isso tudo significa que a riqueza natural, que deveria beneficiar todo povo, agora vai beneficiar apenas meia dúzia de capitalistas. Imagine as consequências disso para energia elétrica. Estão entregando para os estrangeiros o controle de nossa energia, das hidrelétricas, do preço da luz.
Isso quer dizer que as privatizações afetam a soberania de nosso país?
Claro que afetam. Antes eram brasileiros, o governo ou empresas estatais que controlavam a maneira de explorar as riquezas e a forma de aplicar o dinheiro. No caso da lei do pré-sal metade de todos os lucros deveria ir para educação, saúde, ciência e tecnologia. Agora, os estrangeiros levam dinheiro para suas matrizes. Nós, brasileiros, perdemos o controle de nossas maiores riquezas porque perdemos a soberania sobre elas.
E como tudo isso impacta a vida do povo brasileiro?
Afeta de muitas formas, mas principalmente no emprego. De novo o exemplo do pré-sal: antes a Petrobras fazia o navio, plataforma, tudo aqui, gerando emprego e renda para os trabalhadores, além de impostos e royalties nos municípios onde atuava. Agora, tudo vai para fora e nós perdemos, isso aliás é uma das causas da crise financeira do estado do Rio. Imagine quando venderem mais minas, mais terras, tudo isso vai desalojar a população do interior, que ficará com o prejuízo ambiental e sem emprego. Anotem aí, com essas privatizações das hidrelétricas o preço da energia vai subir muito e quem vai pagar é o povo. O que o governo golpista está fazendo é um crime contra a pátria e contra o povo brasileiro. Algum dia teremos um tribunal popular para julgá-los e, certamente, vamos cobrar caro deles. Tenho esperança de que vamos derrotar os golpistas e construir um novo governo democrático e comprometido com o povo. Vamos colocar na cadeia esses que tentaram entregar o Brasil ao capital estrangeiro.
Na última semana, o general da ativa do Exército Antônio Hamilton Mourão afirmou que seus companheiros militares entendem que uma intervenção militar “poderá ser adotada se o judiciário não solucionar os problemas políticos relativos à corrupção”. Como avalia essa afirmação?
A solução não é os militares tomarem o governo. Eles têm o direito de reclamar contra o governo golpista, como todo cidadão brasileiro. Mas não é o que está acontecendo. O que vemos é a cúpula militar fazendo parte do golpismo. A solução é a democracia, não a ditadura militar. E a democracia, se faz por meio do voto e da consulta popular. Primeiro precisamos de um plebiscito, em que todo povo vá às urnas responder se é a favor da venda da Petrobras, da Eletrobras, de nossos minérios, de nossa água. Também que as pessoas possam falar se concordam ou não com as reformas da previdência e trabalhista. Se a maioria do povo for contra, devem ser revogadas todas essas medidas dos golpistas. Segundo, é preciso convocar eleições diretas para eleger um novo governo. O povo tem que decidir seu futuro. Por isso que perseguem tanto o Lula, porque eles, os empresários e os golpistas, sabem que o Lula é o símbolo do povo, e que iria revogar todas essa medidas. Por isso não querem deixar que ele se candidatar.
Edição: Vivian Virissimo