O Sindipetro CE/PI homenageia todas as mulheres petroleiras, esposas e filhas de petroleiros!

Costumeiramente, o Dia Internacional da Mulher – DIM é considerado um dia de festa e comemorações, além de ser também um dia de reivindicações e manifestações acerca dos problemas enfrentados pelas mulheres na sociedade e na vida privada. Diante desta realidade, destaca-se a importância de analisar a origem do DIM em seu contexto mundial, bem como abordar a temática das relações de gênero no meio educacional vigente.

Se recorrermos à história, veremos que no 2° Congresso de Mulheres Socialistas, realizado na Dinamarca, em 1910, a comunista alemã Clara Zetkin propôs uma resolução para instaurar o Dia Internacional da Mulher, a fim de seguir o exemplo das mulheres socialistas americanas. A partir daí, as mulheres de diferentes países da Europa passaram a comemorar o DIM em diferentes datas. Porém, em torno do dia 08 de março, encontram-se ainda muitas dúvidas quanto a sua origem. Oficialmente é relembrada a luta incansável das operárias têxteis de Nova York, as quais se mobilizaram por melhores condições de trabalho e, no dia 08 de março de 1857 morreram queimadas em incêndio supostamente provocado pelo dono da fábrica. No entanto, esta versão não é comprovada, conforme a pesquisadora Renné Coté (SOF: 2007), a qual traz diferentes versões sobre este dia. Uma delas está fundamentada na greve das operárias russas no dia 08 de março do calendário gregoriano, ou em 23 de fevereiro do calendário russo de 1917, greve esta que desencadeou a Revolução Russa. Embora existam controvérsias quanto à origem do DIM, há de se considerar que a comemoração continua sendo de importante relevância nas agendas de lutas das mulheres do mundo.

Nos dias atuais, mesmo estando presente o sofrimento e a luta das mulheres por melhores condições de vida e igualdade de direitos, a data do 08 de março passa, muitas vezes, quase despercebida pela sociedade. Quando lembrada ou divulgada pelos meios de comunicação social, se caracteriza geralmente como um dia festivo, de elogios e programações que enaltecem a beleza, o corpo e a “sensibilidade” da mulher como mãe e esposa. Com este intuito, são oferecidos serviços gratuitos de corte de cabelos, manicure e pedicure, palestras sobre auto-estima e alguns cursos de culinária, corte e costura, e de trabalhos artesanais. Mas, será que isto vem a contribuir para a construção da igualdade entre homens e mulheres?

O DIM precisa ser considerado, antes de tudo, como um momento de reflexão sobre os “papéis sexuais” assumidos socialmente e culturalmente por homens e mulheres, em suas diferenças e desigualdades. Além disso, deve ser um dia de luta contra todo e qualquer tipo de opressão que as mulheres estão submetidas em nossa sociedade[2], pelo fim da violência doméstica, familiar e social e, em prol de uma sociedade mais justa e igualitária, onde homens e mulheres possam viver em condições iguais, respeitadas as diferenças entre ambos. Para que isto de fato aconteça, se faz necessário possibilitar espaços de discussão e debates que venham ao encontro desta superação de desigualdades, bem como de práticas emancipadoras e inovadoras que viabilizem este intuito. Um desses espaços privilegiados é a escola, já que esta, na maioria das vezes é considerada um importante ambiente de discussão, tomada de consciência e transformação social.

No entanto, presencia-se na escola um constante receio de romper com tudo aquilo que é tido como tradicional, especialmente quando nos referimos às diferenças de gênero. Para compreender melhor esta resistência, basta lançar um olhar histórico nas relações de gênero. Afirmava-se que não era necessário “educar” as meninas, já que estas não necessitavam acumular muito conhecimento para exercerem as “obrigações” domésticas. Neste sentido, a mulher foi reduzida ao corpo, à sensibilidade, à beleza, enquanto ao homem estava reservada a razão e a força. Rousseau pronunciou-se sobre isso dizendo que a mulher deveria ser “educada” somente para “servir” o homem e para o “bem estar” da família:

Toda educação das mulheres deve ter o homem como ponto de referência. Agradar-lhes, ser-lhes útil, fazer-se amada e honrada por eles, educá-los enquanto pequenos, cuidar deles quando crescidos, aconselhá-los, tornar-lhes a vida agradável e doce: eis o dever das mulheres em todos os tempos e o que se lhes deve ensinar desde a infância (ROUSSEAU, 1996:18).

Kant (1993: 48), em seus escritos afirmava que “a mulher possui um forte sentimento inato por tudo que é belo, gracioso e ornado. Já na infância gosta de se enfeitar e se compraz em se ornamentar”. Sendo assim, o ideal do “belo sexo” acaba por tornar a mulher inferior ao homem, na medida em que o intelecto da mulher[3] é desvalorizado e esta é vista tão somente através de seu corpo. Esta visão retrógrada perdura e, muitas vezes é difundida na educação e também na escola. Percebe-se isso claramente quando se praticam brincadeiras diferenciadas entre meninas e meninos. Ou ainda, quando nas aulas de educação física há a separação entre meninos e meninas para a realização de determinadas atividades esportivas. Soma-se a isso, a preconceituosa linguagem masculinizada, utilizada pelos educadores e educadoras quando se dirigem aos seus educandos e educandas, através de termos usados universalmente, tais como: “alunos”, ao invés de “alunos e alunas”; homem ao invés de “ser humano”, etc (BEAUVOIR, 1980: 09).

Sendo a educação uma das mais importantes formas de constituição do ser humano, é de fundamental importância a introdução da temática de gênero na escola, contribuindo assim para a percepção de que a convivência entre as diferenças, não somente as de gênero, são fundamentais para a formação social e cultural de homens e mulheres.

A compreensão de que homens e mulheres são seres humanos diferentes, mas não desiguais é essencial para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico, onde as meninas e meninos, de todas as etnias, possam perceber que é possível conviver harmoniosamente num mesmo ambiente, sem discriminações de qualquer natureza. Neste contexto, Madeira (1997: 58) pronuncia-se dizendo que “a educação é o instrumento possível para superar desigualdades sociais, é o espaço que não só as mulheres, mas também, negros, índios, pobres, proletários conquistaram e o utilizam como forma de questionamento de hierarquias”.

Educar para a igualdade entre homens e mulheres deveria ser uma das tarefas primordiais de educadores e educadoras. É de fundamental importância discutir os temas de gênero e educação, para fins de repensar as práticas pedagógicas desenvolvidas na escola. Portanto, o desafio é, não somente nas escolas, mas em toda a sociedade, tratar as diferenças sem transformá-las em desigualdades.

 

Referências Bibliográficas:

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Tradução de Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

KANT, Immanuel. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime. Campinas: Papirus, 1993.

MADEIRA, F. R. A trajetória das meninas dos setores populares: escola, trabalho ou…reclusão. In: MADEIRA (Org). Quem mandou nascer mulher? Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997.

ROUSSEAU, J. J. Émile ou De l’éducation. In: TIBURI, Márcia. MENEZES, Magali M. de. EGGERT, Edla. (Orgs). As mulheres e a filosofia. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2002.

SOF – Sempreviva Organização Feminista. 8 de março: Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida. In: http://www.sof.org.br/inst_area_atua_fem_texto_8marco.htm

 

por LÍRIA ÂNGELA ANDRIOLI