Votei em Dilma Roussef no segundo turno. O voto foi um “não” à volta do PSDB. Muitos fizeram o mesmo. Dilma foi reeleita, mas, em parte, os votos nela foram para evitar a vitória de Aécio. Não representaram aval a seu governo.

O PT venceu porque os programas sociais e a valorização do salário mínimo melhoraram a vida de muitos. Mas nem tudo são flores. O antipetismo cresceu, sobretudo na classe média. O abandono de reformas estruturais – a política, a agrária, a tributária etc -, a má qualidade dos serviços públicos, o aparelhamento da máquina e a corrupção são os principais motivos da rejeição, mais do que o incômodo por partilhar aeroportos ou universidades com pobres.

Dilma vai para o segundo mandato em mar revolto. Nem me refiro à economia. Mas o país está dividido e cresceu a intolerância. O PSDB vestiu o figurino da UDN golpista dos anos 50. Seu pedido de auditoria na totalização dos votos, amparado apenas em comentários nas redes sociais, foi patético. Teve uma só razão: tentar deslegitimar a presidente eleita. O mesmo pode ser dito sobre a passeata de bacanas paulistanos pregando golpe militar.

Nesse quadro, não basta o PT lembrar que a distribuição de renda melhorou, por programas como o Bolsa-Família. Embora positivos, eles não mudam a estrutura social injusta. E chegou um momento em que, para que as coisas não se deteriorem, é preciso avançar. Mas, para avançar, é inevitável afetar interesses dos poderosos.

É pouco dizer que o Ministério Público não engavetou denúncias e que a Polícia Federal teve autonomia. MP e PF são órgãos de Estado. Que trabalhem sem interferência política – o que nem sempre ocorreu no passado, diga-se – é o que se espera.

É insuficiente, também, o PT lembrar que sempre houve corrupção e que nunca ela teve tanto destaque na mídia, embora isso seja verdade. A justificativa não cola e passa impressão de leniência.

Tampouco as regras de financiamento de campanha podem ser apontadas como causa da corrupção. Elas têm que mudar, mas não justificam roubalheira.

No episódio da Petrobras – como antes em Santo André e no mensalão – há participação da cúpula do PT nos “malfeitos”. Seria menos grave se os desvios em administrações do partido ocorressem à sua revelia. Não foi o caso. Que isso seja objeto de reflexão.

Repudiar a corrupção não é udenismo. Ela retira recursos que serviriam ao povo e, pior, corrói a respeitabilidade da gestão. Ninguém crê que quem rouba mantenha fidelidade a princípios.

É bom que o PT entenda: para recuperar o respeito que milhões já tiveram por ele, é preciso mudar. No que toca ao compromisso com reformas e no que toca ao trato da coisa pública.

Para tal, só há um caminho: levar o debate para a sociedade.

Negociar a frio com o grupo que controla o Congresso é ser refém de chantagem. É continuar sem fazer reformas e convivendo com a corrupção.

Aí, nas mãos do Centrão e sem apoio da opinião pública, o governo vai apodrecer e pode se tornar, até mesmo, alvo de impeachment.