*Marcos Tavares dos Santos é  técnico de operação da Petrobras, na UTGCA (Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba). Formado em economia com especialização em economia do trabalho pela Unicamp

Quando era criança um dos ditados mais repetidos por minha mãe, pernambucana de Bonito, era: “por falta de um grito se perde uma boiada”. Hoje me lembro deste ditado como o mais adequado para exprimir meu sentimento em relação às eleições deste ano.

Desde janeiro de 2003 vivemos neste país uma mescla de avanços com a continuidade de atrasos históricos, e sem medo de errar um dos atrasos mais gritantes que não foi derrotado por este governo é a oligarquia instalada na mídia brasileira.

Sempre sou perguntado do porquê do governo Lula-Dilma terem mantido um privilégio tão reacionário como o da comunicação. A resposta, a única que posso admitir, é que, na verdade, foi uma estratégia do governo para conseguir avançar na área social sem sofrer golpe.

Ora, mas o que estamos assistindo neste momento é um golpe institucional da imprensa, representação partidária do atraso brasileiro, figura mistificada mentirosamente da liberdade que impõe a sua vontade e que, como estamos vendo, não trai as suas raízes fundada no autoritarismo histórico que sempre permeou a política brasileira que é, como sabemos, dividida em fases e cada uma delas sempre foi apoiada e estruturada pela imprensa.

Lula teve em suas mãos algumas chances, Dilma não, mas Lula poderia ter deixado a Globo se enterrar em sua crise financeira, poderia também ter negado a renovação da concessão da emissora, poderia inclusive ter investigado se foi ou não fraudulenta a compra da filial paulista da emissora durante o regime militar.

Lula poderia ter enterrado a Veja, aparelhando o MPF e o colocando para investigar as ligações da revista com Carlinhos Cachoeira e destes com o ministro Gilmar Mendes, por que não usar um pouco do expediente da direita para destruí-la? Poderia ter criado uma atmosfera de intrigas onde com certeza a reação seria imensa, mas duvido que fosse maior do que a que hoje assombra a reeleição de Dilma.

Vejam a que ponto chega o cinismo das famílias que dominam a grande mídia nacional, Silvio Santos, um dos alquimistas dos nossos domingos, esteve com seu banco à beira da falência em 2010, salvo por Lula via BNDES, hoje possui um dos departamentos de jornalismo mais anti-petista da televisão e olha que a concorrência é grande.

Eu me pergunto sobre a postura do governo: o que é isto? É inocência?

No estado de São Paulo, Serra e Alckmin transformaram a TV educativa, uma emissora estatal que, historicamente, sempre foi pautada pela liberdade de opiniões, pelo menos após a redemocratização do país, em um veículo de informação e de opinião do seu partido e de sua política. Toda espécie de jornalista reacionário, anti-democrático, anti-popular e pago hoje atua na TV Cultura e ninguém (nós) diz nada. Estamos calados ante aos descalábrios do que ser tornou a Cultura. Um dos programas mais simbólicos do jornalismo nacional pós ditadura o “Roda Viva” hoje nada mais é do que um parlatório da direita brasileira, o programa que já entevistou Fidel, Roberto Campos, Florestan Fernandes, Collin Powel, só para ilustrar a gama e a democracia de opiniões, hoje só entrevista quem te a marca bestial da reação, do racismo e do preconceito, vide entrevistas com Lobão, Rodrigo Constantino, Danilo Gentili, Diego Mainard entre outros…é nojento!!!!

Presto aqui a minha homenagem ao caráter belicista dos reacionários, eles hoje podem impedir que seus interesses sejam ainda mais confrontados graças a disputa que eles travam sem dó nem piedade, usam dos instrumentos que estão em suas mãos, que historicamente sempre tiveram, para voltar ao poder e nós que em doze anos estivemos por lá não criamos, ao que parece, mecanismos adequados para combater os ratos que buscam roer nossas vitórias.

Para mim, hoje, só uma possibilidade de vitória que é com o povo(militância) nas ruas, como em 89, e é na rua fazendoo o embate. Se não for por Dilma é contra a direita, contra a Globo, contra a Veja, contra o Neo-liberalismo, contra a entrega do petróleo, contra a espoliação dos nossos minérios pelas multi-nacionais. E também é pelo acesso a educação, por uma reforma política, pela reforma agrária e pela regulamentação do artigo 220 da constituição federal.

Ansioso, desesperançoso, nervoso e em alguns momentos desesperado, é assim que me sinto, culpo a falta de coragem minha e do meu partido por mais esse golpe que estamos prestes a tomar e não enxergo muita possibilidade de voltarmos a  ter uma chance num futuro próximo. Quantos anos demoraremos para tirar a direita do poder, se ela vencer? Com certeza será muito mais do que o tempo que eles levarão para destruir o alicerce incompleto que levantamos em 12 anos. Lembremos que eles nos derrubaram em 64 e voltamos apenas em 2003.