*Cristino Janja é diretor de Comunicação do Sindipetro Ceará/Piauí

A luta pela democratização dos meios de comunicação, uma batalha enfrentada pela esquerda aliada aos movimentos sociais, não é de hoje. A imprensa tradicional instalada, ou fortalecida pelo golpe civil-militar é hegemônica e defende os interesses político-econômicos e empresariais de fração muito pequena da sociedade. Essa fração, instalada hereditariamente no topo da nossa pirâmide social se identifica com os interesses norte-americanos e europeus e está alinhada ao mercado financeiro globalizado e com suas políticas neoliberais.

Tal ideologia se choca frontalmente com a luta dos trabalhadores e do povo, pela instalação de um Estado de bem-estar social, nos moldes de países como Suécia, Finlândia, Bélgica e Noruega só para citar modeles mais estáveis e duradouros ao longo do tempo, que praticam a equidade e a igualdade em suas sociedades.

A “imprensa”, aqui entre aspas, não busca o equilíbrio e a verdade, mas sim impor a sua ideologia através de um discurso único e consoante com a hiper-exploração do trabalho, conforme as origens escravagistas familiares dos seus proprietários em nome da concentração da riqueza e da manutenção da desigualdade e da violência social. No Brasil essa “imprensa” é assumidamente partidária, embora use um discurso hipócrita de isenção.

Seu poder é enorme, cartelizado e sem igual no planeta! É capaz de perpetuar o golpe 24h por dia em 365 dias por ano. Está entregue a poucos a clãs familiares que exploram o espaço público auferindo lucros inimagináveis em uma sociedade civilizada e sem qualquer compromisso com o aperfeiçoamento da sociedade brasileira e tampouco com o seus interesses históricos, futuros ou mesmo estratégicos. É a DITADURA midiática!

O poder desses grupos é magnífico no sentido de confundir, deseducar, desagregar e manipular a opinião pública contra ela mesma.

Este estado de coisas forjou uma sociedade desigual, violenta, que permitiu a captura do Estado pelos interesses privados, desequilibrou os poderes republicanos, tudo isso para favorecer da desordem e poder manter o seu poder e a hegemonia de toda uma classe egressa do latifúndio e do escravagismo.

Neste contexto se faz necessário fomentar uma discussão muito séria e um ativismo social que permita às outras parcelas da sociedade, que não a classe dominante, através da DEMOCRATIZAÇÃO do espaço PÚBLICO da radiodifusão poder se expressar e contribuir de forma plural, democrática  e decisiva para a resolução dos seus próprios problemas.

Passou do tempo em que a luta operária se resumia apenas na briga pelos seus direitos trabalhistas. Nós trabalhadores podemos e devemos acima de tudo nos manifestar ativamente e lutar pela nossa Constituição, que previu a regulação plural do espaço público da radiodifusão, sem a qual jamais daremos o salto adequado para uma democracia séria, plena e equânime, que permita a emergência de uma discussão honesta acerca dos males históricos que afligem historicamente a sociedade brasileira.

A democratização dos meios de comunicação é, nesse sentido, uma via de mão dupla: não só abre espaço e divide as concessões de rádio e TV, por exemplo, mas também é necessariamente a oportunidade de ocuparmos os espaços (ou criar novos) e levantar as nossas bandeiras, forjando ambientes cada vez mais propícios para o desenvolvimento da nova mídia, a mídia não mais alternativa ao padrão e sim a proativa – forjada no interesse coletivo e para o interesse coletivo.

Na verdade, a política de comunicação bem qualificada de uma organização sindical é um dos instrumentos fundamentais não só para a disputa corporativa, mas para a disputa da sociedade, na qual nós, militantes, enfrentamos os impérios de comunicação da burguesia, a maior arma política dos patrões e da direita. Mais do que o protagonismo e valorização da identidade de uma entidade, a política de comunicação no terceiro setor projeta a transformação social. É necessário, portanto, que nós estejamos engajados para produzir as nossas próprias mídias, e disputar a hegemonia, as cabeças e as sentenças, como diz o pensamento popular.

Sendo assim, cabe ao Sindipetro Ceará/Piauí, em sua luta menosprezada pela imprensa capitalista, mostrar-se como entidade resistente, de apego e apoio à comunicação popular, alternativa e independente.