Com Rede Brasil Atual e Brasil de Fato – (fotos Brasil de Fato)

altAs manifestações que ganharam as ruas de várias capitais brasileiras ontem (17) à noite reuniram mais de 300 mil pessoas, segundo estimativas de grupos organizadores dos atos, num volume e numa extensão sem paralelo desde as Diretas-Já, em 1984, e o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.

Ao contrário destes dois episódios históricos, porém, os atos de agora não contam, ou não contavam até aqui, com o apoio de movimentos e partidos tradicionais, o que só começou a ocorrer depois da violenta repressão contra a manifestação da semana passada em São Paulo. Ontem, já era forte o envolvimento de organizações como UNE e MST, além de diversos sindicatos e outros grupos.

São Paulo

Segundo informações obtidas pela Rede Brasil Atual, parte desses movimentos vai juntar-se às pressões para que, em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) reduza o preço da passagem de ônibus.

A redução das tarifas do transporte público, bem como a melhoria do serviço, continua sendo a principal bandeira dos manifestantes. Mas outras também ajudaram a encher as ruas, como os protestos contra a Copa das Confederações, além de motivos localizados diversos.

Perigo conservador

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Inicialmente, a mídia condenou veementemente as manifestações, classificou os jovens como vândalos e ressaltou a presença de uma classe média sem motivos para revolta. Aos poucos, sobretudo após a brutal ação dos policiais paulistas que feriu 8 jornalistas e centenas de manifestantes, a imprensa começou a demonstrar simpatia e tentou contagiar o movimento com suas pautas, como a condenação de “mensaleiros”, o repúdio à PEC 37 e a violência urbana.

O comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor, foi um dos primeiros a condenar a ação dos “vândalos”, porém, uma semana depois, voltou atrás e disse estar equivocado. Defendeu os jovens e lhes sugeriu bandeiras como a questão da corrupção e a celeridade em obras do PAC. Outros comentaristas conservadores, como Luiz Felipe Pondé, também passaram a mostrar interesse pelo levante dos jovens. A própria revista Veja estampou na capa uma sugestão para os próximos passos da “revolta dos jovens” – a corrupção e a violência urbana.

Membros do movimento pela tarifa zero demonstraram-se preocupados com a inclusão de temas defendidos por conservadores. Para eles, isto pode enfraquecer a luta pela revogação imediata do aumento das tarifas. De fato, nas manifestações de São Paulo, algumas das pautas preferidas pela mídia desfilaram nas ruas, como a redução da maioridade penal e o pedido de prisão para “mensaleiros”, ainda que dispersas em meio a uma maioria que bradava pela redução da tarifa e até mesmo exibia cartazes contrários aos meios de comunicação. Alguns portadores de cartazes, já percebendo essa manobra de transformar um protesto legítimo em uma ação despolitizante “contra a corrupção”, de luta “por direitos” e de que finalmente o Brasil “acordou”, traziam consigo frases como “Se você acordou agora, saiba que a periferia nunca dormiu” ou “Saiba que já têm brasileiros acordados há tempos, você que não dava bola”.

(foto Rio de Janeiro)

 

Protestos pelo Brasil

Em São Paulo, a estimativa é de que o movimento tenha reunido100 mil manifestantes, num ato que começou no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste da cidade, e terminou em duas frente: metade foi para a região da avenida Paulista e metade para o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado, que teve parte de seus portões derrubados. A PM lançou bombas de gás e o grupo recuou.

No Rio de Janeiro, outras 100 mil pessoas lotaram a avenida Rio Branco e se dirigiram para uma grande concentração na frente do Palácio Tiradentes, onde fica a Assembleia Legislativa do estado, na região da Cinelândia. Após uma tentativa de invasão do prédio, houve confronto com as tropas da Polícia Militar. Pelo menos 20 pessoas teriam se ferido, seguindo a PM.

altBelo HorizonteEntre as demais capitais, a que reuniu mais manifestantes foi Belo Horizonte, com cerca de 30 mil, seguida por Belém, Curitiba e Salvador, todas com 10 mil cada. Em Porto Alegre foram 5 mil, mesmo total estimado para Brasília – onde os manifestantes subiram romperam o cerco de segurança e subiram no teto do Congresso Nacional.

Dilma: ‘É preciso ouvir a voz das ruas e da nova democracia’

 

altBrasíliaEm pronunciamento nesta terça-feira, 18, durante cerimônia de lançamento do Marco Regulatório da Mineração, a presidenta Dilma Rousseff disse que as instituições tradicionais precisam “ouvir a voz das ruas” e da “nova democracia” que se manifestou com “força e civismo” na noite de ontem (17) em várias capitais do País, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília., reunindo, segundo organizadores dos movimentos, cerca de 270 mil pessoas.

“A grandeza das manifestações comprova o surgimento de uma nova democracia, a força e a voz da rua e o civismo da nossa população”, afirmou. “O Brasil acordou mais forte”, avaliou a presidenta.

Segundo Dilma, as manifestações lançaram um desafio às instituições tradicionais de interlocução da política e da sociedade.

“Essas vozes precisam ser ouvidas, ultrapassam os mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos, dos políticos, da mídia. Os que foram deram mensagem direta ao conjunto da sociedade. Mensagem por melhores escolas, hospitais, direito à participação, mostram a exigência de transporte de qualidade e preço justo; uma mensagem pelo direito de influir nas decisões de todos os governos; mensagem de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público; mensagem que comprova valor da democracia e da participação dos cidadãos em busca dos direitos”, disse.

Após lembrar que pertenceu a uma geração que sabe o quanto custou a conquista desses direitos, a presidenta afirmou que seu governo está “empenhado e comprometido pela transformação social”. Segundo ela, os avanços dos últimos anos nas áreas social e econômica contribuíram para trazer à tona essas novas vozes.

“Meu governo compreende a exigência e entende que (as exigências) mudam quando nós mudamos o Brasil. Porque nós demos acesso ao emprego, à educação, (são) cidadãos que querem mais e têm direito a mais. Todos estamos diante (de reivindicações por) mais cidadania, saúde, transporte, educação de qualidade. Meu governo quer mais e vamos conseguir mais para país e povo”, concluiu.

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