altPara comemorar o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, reproduzimos a entrevista feita pelo Sindipetro Unificado-SP com a dirigente sindical, Marbe Cristina, que está à frente do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras. Confira a entrevista concedida ao jornalista Norian Segatto:

Por que ainda é importante comemorar o Dia Internacional da Mulher? Qual é o significado desta data hoje em dia quando as mulheres já “dividem o poder” com os homens, como, por exemplo, nas presidências da Petrobrás e da República.

Ainda é importante a comemoração da data por alguns aspectos. Há o histórico, para lembrarmos das dificuldades e das lutas de mulheres que, num passado não tão distante, ousaram desafiar o capital e toda a cultura machista e patriarcal. Se não fosse por essas companheiras, com certeza hoje estaríamos em situação ainda mais difícil. Mas há, também, o aspecto de continuidade da luta e disputa de espaços, principalmente no poder e na vida pública. No mundo do trabalho, as mulheres no Brasil recebem cerca de 30% a menos que os homens, mesmo tendo mais tempo acadêmico e ocupando os mesmos cargos. Esta situação é ainda pior em relação às mulheres negras. As oportunidades de trabalho e progressão na carreira são minimizadas para as mulheres. Hoje já somos 49% da força de trabalho formal no Brasil, mas isso não reflete em melhorias de condições de vida e trabalho. Não há compartilhamento de atividades com os homens e o poder público pouco ou nada faz para mudar esse quadro. A mulher ainda é vista como a “cuidadora do lar” e sofre com este estigma. De fato há mulheres na Presidência da Petrobrás e da República, mas elas fazem parte da minoria. Na Petrobrás há apenas 6% de mulheres em cargos de liderança e de cerca de 2% em cargos que têm autonomia de decisão. No mundo público podemos contar facilmente quantas mulheres têm cargos eletivos ou como ministras, como coordenadoras de secretariais ou que pertencem ao primeiro escalão do poder.

 

Quais são as principais questões de gênero que afetam as trabalhadoras da Petrobrás?

Na Petrobrás existem diversas questões, como a dificuldade de contratação de mulheres nas área operacionais e plataformas por falta de banheiros, vestiários e alojamentos próprios. Preferem não contratar a construir ou adaptar as instalações. Outra questão é quanto aos uniformes, que são padronizados para o masculino. Não há um padrão para os uniformes femininos. Outros problemas frequentes são os casos de assédios, tanto sexuais quanto morais, principalmente com as petroleiras terceirizadas, que são mais vulneráveis. Além destas questões, há ainda os problemas enfrentados pelas petroleiras quanto à progressão nas carreiras.

Como se organiza e quais são os objetivos do Coletivo de Mulheres petroleiras?

O objetivo precípuo do Coletivo de Mulheres Petroleiras é justamente elucidar e apropriar essas mulheres sobre esses debates, pois a maioria não se apercebe das diferenciações existentes dentro da empresa. É necessário que elas conheçam os pontos de melhorias nos ambientes de trabalho e seus direitos para poder exigi-los. Desde 2009 temos o Coletivo Regional das Mulheres Petroleiras do Unificado, que é composto por companheiras da ativa e aposentadas, que participam de campanhas reivindicatórias, atos e manifestações do sindicato e de atividades propostas pela Federação, confederações e centrais sindicais, bem como os movimentos de mulheres. Em março do ano passado promovemos o 1º Encontro Regional de Mulheres Petroleiras e, em contato com companheiras de outros Sindipetros, tivemos a formação de outros Coletivos. Na II Plenária da FUP, realizada em agosto, esses Coletivos se uniram para formar o Coletivo Nacional das Mulheres Petroleiras. Ele é formado por uma representante de cada Sindicato filiado à FUP, inclusive as oposições reconhecidas por ela. Este Coletivo Nacional tem por objetivo unir as mulheres de todo Brasil na luta por melhores condições de trabalho, trazendo os debates regionais para o âmbito nacional e efetuar troca de ideias e experiências. Para isso, estamos preparando o 1º Encontro Nacional de Petroleiras Fupistas, com o intuito de fazermos os debates e sugerirmos pontos de melhorias, bandeiras de lutas e cláusulas para o ACT, com o recorte de gênero.

Por que é importante a participação das mulheres nas lutas da categoria e da sociedade?

É extremamente importante para mudar os paradigmas impostos pela sociedade e pelo capital. Precisamos nos unir para conquistar direitos primordiais, como de compartilhamento de atividades e responsabilidades dos cuidados com as crianças, adolescentes e idosos, que hoje acaba sobrecarregando as mulheres. Este compartilhamento não é apenas com os homens, mas com o poder público também, pois há muitas coisas que seria atividade pública que acabam “deixando” para mulheres, como, por exemplo, o acompanhamento de idosos  e crianças em casos de internação. Precisamos trazer o “olhar feminino” para o dia-a-dia da sociedade, garantindo, assim, um avanço nas relações humanas e de trabalho.