A escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti, vice-campeã do Carnaval do Rio de Janeiro de 2018 com mote de escravidão, da exploração dos trabalhadores e de críticas ao governo de Michel Temer, anunciou na noite de ontem, na abertura do VII PlenaFUP, que o enredo de 2019 manterá o teor político e crítico com uma caricatura da história cearense, o bode iôiô, que chegou a ser “eleito” vereador em 1922.

Antes da agremiação animar os trabalhadores na quadra da escola, em São Cristovão, o petroleiros tiveram uma mesa de abertura composta por entidades sindicais e movimentos sociais (CUT, FUP, CNRQ, CTB, Comitê em Defesa das Empresas Públicas, Fundacão Josel Sierra, UBES, FPSM, MST, MAB, MPA e Levante Popular da Juventude), que não pouparam esforços em dizer que a libertação de Lula é prioridade para a classe trabalhadora.

“Estamos diante de dois projetos: civilização ou barbárie”, afirma José Maria Rangel

Em sua saudação aos petroleiros e demais convidados da VII Plenafup, José Maria Rangel, relembrou a trajetória de lutas da categoria petroleira, ressaltando que FUP sempre teve a coragem de defender Lula em todos os seus fóruns. “Nós nunca tivemos vergonha de dizer qual é o nosso lado, pois sempre soubemos que estávamos vivendo o tempo todo uma luta de classes”, ressaltou.

Paraíso do Tuiuti

Em 2018, com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, a agremiação retratou ainda manifestantes de verde e amarelo em trajes de pato e manipulados por um vampiro presidente inspirado em Michel Temer. Enalteceu ainda os “guerreiros da CLT”, representados nas fantasias como uma espécie de deus Shiva dos trabalhadores, munido de martelo, foice e outros instrumentos em seus quatro braços. Os integrantes da ala carregavam ainda uma enorme carteira de trabalho avariada, uma crítica à reforma trabalhista aprovada no ano passado. O samba-enredo, considerado um dos melhores do ano, caiu no gosto popular com refrãos emocionantes, como “Não sou escravo de nenhum senhor/Meu paraíso é meu bastião/Meu Tuiuti, o quilombo da favela/ É sentinela na libertação” e “Meu Deus, meu Deus/Se eu chorar, não leve a mal/Pela luz do candeeiro/Liberte o cativeiro social”.

 

 

Já em 2019, o enredo “O Salvador da Pátria” contará a história do bode Iôiô, eleito vereador em Fortaleza, nas eleições de 1922, em um protesto feito pela população. “Vendeu-se o Brasil num palanque da praça/E ao homem serviu ferro, lodo e mordaça…/Vendeu-se o Brasil do sertão até o mangue/E o homem servil verteu lágrimas de sangue/Do nada um Bode vindo lá do interior/Destino pobre, nordestino sonhador/Vazou da fome, retirante ao Deus dará/Soprou as chamas do dragão do mar”, diz o samba.

BODE IôIô

 O bode costumava perambular pelas ruas do centro de Fortaleza na companhia de boêmios e escritores que frequentavam os bares e cafés ao redor da Praça do Ferreira, antigo centro cultural da capital. Havia então se tornado popular e muito querido pelo povo da cidade. Em 1922, ano de eleições, os votos eram no papel, escrevendo o nome dos seus candidatos e lançando na urna. Para surpresa geral, o bode Ioiô tinha sido apontado como o vereador mais votado de Fortaleza. Devido a sua grande fama, Ioiô foi embalsamado e doado para o Museu do Ceará em 1932.